OURUBU 2022
curadoria Marco Antonio Teobaldo
Instituto de Pesquisa e Memória dos Pretos Novos - Rio de Janeiro, RJ
Fotografias: Ana Bia Silva
Um urubu de ouro que voa alto e carrega consigo as histórias, memórias, batalhas e a vida daqueles que foram e se foram um dia.
O Ourubu é um personagem fundamental pro meu trabalho porque ele surge para representar o motivo de eu fazer tudo que faço: lembrar.
Os urubus são aves que voam alto e estão sempre passeando lado a lado com a morte e a melancolia daqueles que perecem, por isso, o Ourubu é a figura que traz a vida pra esse momento, para os corpos esquecidos e apagados, pois quando vemos um urubu voando sobre algum lugar, logo pensamos ‘Algo morreu’, mas quando vemos o voo do Ourubu pensamos ‘Alguém viveu’.
É tudo parte de um mesmo caminho, quem viveu, quem vive e quem viverá e é por isso que ele voa em círculos.
E aqui esse voo se estende pelo próprio corpo do Ourubu. Partindo dos suas patas que, firmadas no chão, nos mostram que nossa força, estruturas e lutas são formadas por várias das individualidades, batalhas e jornadas que muita gente trilhou antes de nós e assim vamos até o seu próprio bico que corta e ceifa, mas que também produz, trabalha e provém. Nesse caminho passamos também por seu estômago que se transforma num manto que nos ensina a se alimentar para manter vivo.
E nos manter vivos também, afinal é por isso que estamos aqui.
Por isso, quando vemos vários Ourubus repousando num lugar indistinto percebemos que eles estão em todo lugar. Eles podem estar tanto aqui e agora conosco quanto no período em que o cemitério dos Pretos Novos, sobre o qual estamos pisando, ainda estava ativo. Essas figuras representam a mistura dos tempos e dos espaços através de seu voo atemporal.
A memória de um lugar permanece viva em sua terra, em suas pessoas, em suas cicatrizes, em suas cores, em suas histórias e em seus Ourubus.