Punta de Lanza 2023
curadoria do artista
Homesession - Barcelona, Catalunha, Espanha
Fotografias: Ana Bia Silva
No dia 21/05 estava em casa, na cidade de Saquarema no Brasil arrumando a mala para vir pra Barcelona e ligo a televisão para assistir Real Madrid e Valencia FC. É justamente nessa partida que a torcida valenciana de forma violenta chama Vinícius Jr. de mono.
Nesse momento nasce Punta de Lanza.
Durante o período de 2 meses na Homesession, trabalhei a partir da figura do Vini Jr. para criar símbolos e imagens de resistência antirracista e assim propor um diálogo entre tradições afro-brasileiras e as experiências proporcionadas pelo período na residência.
A exposição se inicia com um retrato de Vinícius que faz parte de uma série chamada Fundamento, onde personagens que lutam ou lutaram por seu povo carregam em seu sorriso o mapa do Brasil.
Ao lado temos o díptico Ferramentas que remete às ferramentas de santo feitas em ferro e transforma as pernas e, principalmente, o seu movimento em uma ferramenta que amplifica sua voz.
A série Drible mostra uma sequência do movimento de um drible realizado em uma partida em Barcelona. O drible aparece aqui para além da jogada dentro de campo, o ato de driblar é também ultrapassar qualquer estrutura opressora de forma criativa para sobreviver. As histórias das populações afro-diaspóricas são repletas de dribles que foram fundamentais para que, por exemplo, eu estivesse aqui hoje.
Durante minha residência, Vini Jr recebeu a camisa 7 do Real Madrid, número que é o mais tradicional da história do clube. No Brasil, o número 7 também é muito importante pras religiões de origem africana e a frase ‘Eu tenho 7 espadas pra me defender’ vem de um ponto cantado, que são canções ritualísticas na Umbanda, para o Orixá Ogum que com suas espadas nos protege em nossas batalhas.
A Bandeira da Felicidade Guerreira é uma homenagem à importância que a alegria, a festa e o sorriso têm nas culturas afro-diaspóricas. A vontade de celebrar a vida é também uma forma de resistência e de luta. Faz parte de nós festejar para afirmar que estamos vivos, que estamos aqui e que somos fortes. Seja em um desfile de Carnaval, seja após comemorar um gol se dançamos é porque estamos mais vivos do que nunca.
A peça em madeira Ponta de Lança ergue a espada que espalha o sol e é a ponta afiada que atravessa os tempos em uma luta que é muito maior que o agora. E ela brilha tanto nos braços do garoto que joga pela ponta esquerda e saiu de São Gonçalo para conquistar o mundo quanto nos braços de outros tantos meninos e meninas que têm um sorriso que resiste, dribla, canta e dança.
OGUNHÊ